“E ao anjo da igreja de Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, miserável, pobre, cego, e nu; Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.”
Apocalipse 3:14-22
Laodicéia era uma cidade rica, que foi considerada como cidade bancária, produzia lã preta, considerada nobre e ainda desenvolveu uma medicina oftalmológica e produzia um tipo de colírio específico. Além disso, por ela passava o rio Lico, que era um rio de águas termais. Quando as águas do rio Lico passavam por Laodicéia, essas águas já estavam mornas e eram consideradas impróprias para consumo, já que causavam vômitos em quem as consumisse. A estrutura da crença da cidade é vista da mesma forma na igreja, evidenciando, através do próprio texto, a intrincada interação e sincretismo entre a estrutura urbana e o contexto eclesiástico. Vemos que Jesus compara as evidências de Laodicéia em Apocalipse 3:18, com sua situação espiritual.
Um dos grandes problemas de Laodicéia era a soberba desta igreja, como vemos no verso 17: "rico sou... de nada tenho falta", ela era uma igreja que se vangloriava de suas posses e possivelmente, classes de pessoas que eram parte dessa igreja e por isso se achava melhor. A resposta de Deus é clara: "não sabes que é um desgraçado, miserável, pobre, cego e nu..." (v.17).
Com a cultura atual, vemos muitas "Laodicéias" por aí. As novas igrejas ricas, com seus músicos profissionais e pregadores famosos, acham-se superiores às demais, mas não conseguem enxergar nada além disso. Jesus a repreende e aconselha. Vamos ver cada parte:
1. Recomendação para comprar ouro.
“Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças…”
(v. 18)
Apesar de ser rica, Jesus diz ser uma igreja pobre. Ela era rica de bens materiais, mas, o ouro que Jesus fala aqui, é do conhecimento de Deus, como as próprias Escrituras dizem a repeito do Reino de Deus como um tesouro (Mt 13:44-45).
2. Recomendação para comprar vestes
“...e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez…”
Laodicéia produzia uma lã considerada nobre, mas, vemos que Jesus novamente usa do natural e compara com o espiritual, porque apesar de ser uma cidade importante na fabricação de roupas nobres, a igreja era considerada como nua. As Escrituras dizem que Jesus nos dá vestes novas, o que conota a mudança de vida e agora uma vida justificada, livre do pecado e próxima de Deus. Algo que a igreja em Laodicéia ainda não conseguia compreender, porque não conseguia enxergar que suas ações eram pecaminosas e que a afastavam de Deus.
3. Recomendação para ungir os olhos
“...e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas.”
Apesar de ser reconhecida, por sua medicina oftalmológica, Jesus diz que Laodicéia precisa "comprar colírio para ver". Jesus nos ensina que sem ele, somos cegos e como Ele diz à igreja em Laodicéia, Ele é o único que pode nos fazer "ver", ou seja, ter visão espiritual, enxergar nossa necessidade de Deus e assim alcançarmos a redenção, algo que Laodicéia parecia não enxergar.
4. "...vomitar-te-ei de minha boca..." (v. 16)
Outra conotação, dessa vez, sobre a causa de vômito. O fato do rio Lico não ter suas águas apropriadas para consumo, era por serem mornas. O sentido de ser morno é a falta de firmeza no que seguir. Simpatizam com as Escrituras, mas, não deixam velhos hábitos contrários à mesma. E isso, não pela dificuldade de não deixar para traz tais habitos, mas, pelo fato de gostarem de tais práticas.
Outra conotação importante ainda sobre o rio Lico, é que todo rio é um símbolo de fertitildade e vida, mas, no caso deste rio, vemos que por sua incapacidade de saciar a sede, seu produto era descartado e usado apenas para fins sanitários. Pense: Assim como as águas do Lico eram impróprias, uma igreja se torna ineficiente quando está repleta de dons e talentos aparentes, com pessoas enjauladas em sua soberba, incapazes de edificar ninguém. São como águas mornas: estão lá, mas, ao invés de promoverem o bem, causam o mal. Não servem, a não ser para descartar o que é impróprio.
Vemos que há um paradoxo em todas as áreas, pois Laodicéia, tinha tudo isso, porém, Jesus a trata como se ela não tivesse nada.
A Igreja contemporânea e Laodicéia
Assim como Laodicéia achava que tinha tudo por ser rica, muitas igrejas atualmente se comportam da mesma forma. Acreditam mais em suas forças e bens e sua fé é morna. Uma igreja idólatra; mas qual é o objeto de sua idolatria? Ela mesma! Então, vamos entender melhor isso:
Sua igreja faz a vontade de Deus?
Essa pergunta será respondida quase sempre com um “sim”, porque, dificilmente alguém que quer andar no erro vai aceitar que está errado! Por isso, há necessidade de comparar seus frutos com as Escrituras. Vidas estão se convertendo ou se divertindo na igreja? Pessoas são tratadas ou "aceitas"?. Uma igreja que vive debaixo dos mandamentos de Jesus, jamais vai tolerar o pecado o que é diferente de receber o pecador. Pra deixar claro que o pecado não pode fazer parte da igreja de Cristo, vamos lembrar das palavras de Isaías:
"Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça. " Is 59:2
Baseando-se nessas reflexões, temos que deixar as opiniões e partir aos fatos. A verdadeira vontade de Deus, está em discípulos crédulos, resolutos em sua conduta de fé, praticantes das Escrituras e está também em se importar com os outros, especialmente com aqueles que são marginalizados, como podemos ver no livro de Tiago:
“A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo.” Tg 1.27
Vivemos em uma época onde a Igreja de Cristo realmente tem se preocupado com os outros?
Uma igreja deve ter como seu objetivo maior, o cuidado com seus membros e também com aqueles que não são parte da igreja. Esse tipo de preocupação deve abraçar tanto o âmbito espiritual (orando uns pelos outros e suplicando a Deus por sua cura espiritual, etc), mas também no âmbito material. Por exemplo: se um membro ou família na igreja tem passado por tempos difíceis, como um desemprego, a igreja deve ajudar (por exemplo), financeiramente, dentro de suas possibilidades.
Devemos entender que o verdadeiro amor por nossos irmãos, também se reflete materialmente. Se alguém tem tanta dificuldade de ajudar materialmente seu irmão, como poderia realmente entrar em um propósito de interceção por ele? Como poderia amá-lo e cumprir o maior mandamento especificado por Jesus?
Outro ponto, é que não temos visto muitas igrejas se preocupando com campos missionários dentro do país, em regiões de alta necessidade (lugares onde há muitas pessoas carentes), mas em contrapartida, podemos ver templos luxuosos, pastores ricos, igrejas desfrutando da mais alta tecnologia de câmeras, sonorização, mídia, mas, sem frutos de uma igreja devota.
Só pra explicar onde quero chegar, não sou contrário a um homem de Deus ter riquezas as quais venham de seu trabalho, mas, penso que (sendo um homem de Deus) ele terá em seu coração o desejo de ajudar materialmente irmãos que sejam carentes e não só pensar em si mesmo. Uma pessoa avarenta é idólatra e vemos muitos idólatras no mundo atual. Infelizmente, esse conceito tem chegado com força dentro do corpo eclesiástico.
Uma observação importante
Muitas dessas igrejas que têm seus super-templos, normalmente têm seus membros vindos de outras igrejas, normalmente menores. É muito comum ouvir dos membros dessas igrejas a seguinte frase "eu era da igreja tal..." Particularmente, dentro das pesquisas que fiz em algumas igrejas desse perfil é que foi muito difícil encontrar alguém que disse "me converti nessa igreja".
Estou pontuando esse assunto, porque normalmente, essas igrejas se chamam de avivadas, mas, quando olho a história da Igreja e dos grandes avivamentos, vejo uma característica bem peculiar: Todos os grandes avivamentos, desde Atos 2, havia uma sede pelas almas e não se preocupavam com as aparências, sua fama e nem com seu templo. Diferente das igrejas modernas, as pessoas se convertiam nessas igrejas e não vinham de outras!
Quando estudo a situação do capítulo 2 de Atos, vejo que o único foco era Jesus e obedecer o chamado que Ele fez. A Igreja do primeiro século, não tinha templos, não tinha músicos, não tinha pompas. A diferença grande é que o desejo em salvar as almas era ardente dentro de cada coração seguidor de Cristo e para fazer cumprir o chamado em suas vidas, a Igreja praticava o Evangelho.
Os templos luxuosos começaram a aparecer no cristianismo com a instituição de Roma Eclesiástica, que instituiu a primeira "igreja cristã". O interessante dessa igreja, foi que a preocupação de Constantino era de construir templos ricos, celebrar festas pagãs com outros nomes e confundir seus seguidores dizendo que "era para Deus". Minha pergunta é: Não herdamos muito disso?
É incontestável que uma igreja avivada é uma igreja que se preocupa em pregar o Evangelho e isso é tudo. Vamos pensar na história dos seguintes avivamentos:
- Atos 2
- O despertamento de Jan Huss
- Reforma Protestante
- Avivamento Morávio
- A Experiência de John Wesley
- A paixão de Charles H. Spurgeon
Eu poderia fazer uma lista pelo menos 3 vezes maior que esta, mas, não é necessário. O ponto convergente de todas as experiências de avivamento foi o amor pelas almas. Nenhum avivamento começou com shows em seus templos", lugar onde os altares deram lugar para palcos. Ali, eu vi pessoas sem conhecimento das Escrituras, pessoas que o pecado era irrelevante, a pregação do Evangelho de Jesus, deu lugar às palestras Coach.
O que é a Igreja Morna?
“Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” Apocalipse 3:16
A Igreja em Laodicéia confessava a Cristo, cria Nele, mas não o seguia em sua plenitude. Mas como assim? Lembra-se do jovem rico? O Jovem que se gabava de guardar toda a Lei, mas, parece que seu intento era mostrar alguma coisa? Jesus o desafiou a deixar todos seus bens e segui-lo. O jovem desistiu. Laodicéia amava seu poder e riquezas mais do que pessoas! Como poderia seguir a Cristo se o foco de Cristo são as almas e não os templos e suas riquezas? Uma igreja que prega a Cristo, mas não segue sua palavra, é semelhante à Laodicéia, que tem uma parte que se volta para Deus acreditando nas Escrituras, mas não consegue segui-la e não consegue se libertar da vaidade e soberba. Então, como são as igrejas modernas? É bem simples de responder essa pergunta! Vamos usar exemplos:
1º caso: Haverá uma apresentação de uma banda famosa na igreja. Podemos prever que a igreja estará bem cheia.
2º caso: vamos reunir pessoas para fazer 12 horas de oração. Vamos pensar e responder: quantos teremos nesse culto?
No primeiro caso, se pessoas estiverem trabalhando, arranjam um jeito de ter folga, se estiverem cansadas, o vencem, se estiverem com algum compromisso desmarcam....
Já no segundo caso, tudo é motivo para não ir, pois esse evento não "aparece". No primeiro caso, vemos um cenário de alegria e divertimento e no segundo caso, busca pelo relacionamento com Deus. Podemos notar que o segundo caso perde assustadoramente, ou seja, o número de pessoas que desejam buscar aumentar seu relacionamento com Deus é muito menor: Igreja morna.
Queremos mudar! Por onde começamos?
Uma palavra que nos traz esperança é do verso 19 que diz:
"Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te; Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." Ap. 3:19-20
Quando Jesus dá essa palavra, Ele nos mostra claramente que ainda há tempo para o arrependimento, e o fato da exortação é que Deus deseja a reconciliação conosco. E ainda acrescenta que, "se alguém abrir a porta, Eu entrarei...", o que fica claro que se houver o arrependimento, Ele não o rejeitará.
Para aquela igreja que deseja mudar, o princípio é simples:
- “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” Lc 10.27
O amor a Deus, é a amostra clara e verdadeira de devoção e obediência a Ele através da revelação dada por sua Palavra. Lembre-se, não há verdadeira comunhão com Deus sem o conhecimento e vivência de sua Palavra.
O amor ao próximo não consiste em sentimentos vãos que não produzem nada. É uma conscientização de que Deus ama indistintamente. Portanto, você fará o que for preciso para que teu próximo também conheça a Cristo e conquiste a salvação, pois isso é agradável a Deus. E para aquele que é teu próximo e que já conhece a Cristo, você será amável, proativo em ajudar em qualquer área, intercessor, amigo, etc. - “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.” Mateus 28:19,20
Esse é o maior chamado de todos, que consiste que todo cristão genuíno tem o dever de pregar para aqueles que não conhecem a Cristo e ensiná-los, por isso Jesus disse: “fazei discípulos”. Não basta só dizer um “Jesus te ama” e está tudo certo, é também necessário ensinar, clamar, interceder por aqueles que iniciarem a caminhada cristã.
A igreja que realmente confessa a Cristo e o segue verdadeiramente tem esses frutos, que são resultados do Espírito de Deus sobre sua vida.
Conclusão
A Igreja de Laodicéia se idolatrava. Um pecado que muitas igrejas atualmente cometem. Uma igreja que se importa demais com sua própria imagem não tem muito espaço para se preocupar com os outros. Isso é muito grave e por esse motivo, Laodicéia recebeu a mensagem: “vomitar-te-ei de minha boca”, ou seja, “te deixarei para sempre”.
Que sejamos atentos às armadilhas que são preparadas para nós. O que fez a igreja em Laodicéia cair é o mesmo que faz cair grandes líderes de hoje: a vaidade. Espero em Deus que todos nós tenhamos a sabedoria para reconhecer quando estamos caindo e a direção para nos levantarmos.
Que Deus abençoe tua vida!
Por Rogério Filho