Sermão do Monte (parte 2)

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;" Mateus 5:6-8

1. Os que tem fome e sede de justiça

O que podemos entender como justiça? Especialmente no mundo de hoje em que cada grupo inventa sua "justiça" temos que ter o entendimento perfeito do que realmente é justiça e à luz das Escrituras, procurarmos caminhar nela.

Grande parte dos fariseus se consideravam justos e o motivo disto é que eles procuravam praticar a Lei de Deus em sua totalidade. Não estavam errados em procurar terem uma prática excelente da Lei de Deus, mas o seu maior erro foi uma idolatria de sua própria classe, onde eles se consideravam maior que os outros por esse motivo.

Para falarmos de justiça, precisamos entender a Lei. A justiça é a Lei em sua prática, ou seja, aquele que é justo, o é por estar caminhando dentro das regras, ou seja, dentro da Lei. Este mesmo princípio é dado para a lei dos homens, pois se você anda na lei, você está à favor da justiça e do contrário, obviamente, contra ela.

Portanto, os que têm fome e sede de justiça são aqueles que praticam a Lei, especialmente, a Lei de Deus, mas, não somente as praticam, mas, a ensinam para que as mesmas sejam conhecidas pela maioria e assim, todos andem de acordo com ela. Os famintos pela justiça não se contentam em somente serem justos, mas, que todos sejam beneficiados pela prática da justiça.

Por outro lado, temos aqueles que até podem praticar a justiça em sua prória vida, mas, não se importam que outros sejam injustos, fazendo-se assim, cúmplices da injustiça, pois, quem ignora a injustiça, colabora para que ela cresça. Vamos ver o que as Escrituras nos dizem sobre isso:

O Apóstolo Paulo exorta a igreja em Corinto a não aceitar deliberadamente práticas contrárias à justiça de Deus. Ele chama a atenção para o fato de que os crentes de Corinto ignoravam problemas graves dentro da igreja, permitindo assim que o mal crecesse dentro dela.

"¹ Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem possua a mulher de seu pai. ² Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação. ³ Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, ⁴ Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, ⁵ Seja, este tal, entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus. ⁶ Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? ⁷ Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. ⁸ Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade. ⁹ Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; ¹⁰ Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. ¹¹ Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. ¹² Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? ¹³ Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai pois dentre vós a esse iníquo."
1 Coríntios 5:1-13

O que as fortes palavras do Apóstolo Paulo estão dizendo aqui? Para vos dar um vislumbre rápido, a cidade de Corinto ficava na Grécia e como bem sabemos, os gregos eram politeístas. Além deste caso, ainda temos a questão que os gregos amavam a beleza e de acordo que vemos em artefatos históricos, como por exemplo, esculturas e pinturas, a erotização era bastante aflorada em meio aos gregos e essa erotização fez expandir a homossexualidade entre os coríntios, fato este que Paulo a fazer menção a estes ainda no livro de 1 Co 6:9.

Agora, com essas informações, podemos ter uma ideia melhor no texto de 1 Coríntios 5. Haviam muitos gregos se convertendo ao cristianismo, e com isso, haviam muitos curiosos e também haviam aqueles que queriam deter a igreja, mas, sabiam que se fizessem como os romanos, iriam só aumentar o número de cristãos. Então, para tentar confundir a igreja, pessoas se inflitravam nas igrejas mantendo suas práticas imorais e tentando persuadir outras pessoas da igreja, como o que alguns fazem hoje, com o pretexto "não tem nada haver".

Pessoas assim eram extremamente nocivas às igrejas, especialmente para àqueles que eram novos convertidos, pois não conseguiam discernir entre o certo e o errado. Por isso, Paulo diz: "Com tal, nem ainda comais". Paulo não estava sendo discriminatório aqui; ele estava zelando para que o mal não crescesse dentro da igreja a ponto de seus membros não conseguirem mais discernir entre o certo e o errado. A recomendação de Paulo não é odiar os pecadores, mas sim não participar com eles de suas práticas, não ignorar fatos, impedindo assim que esses homens infectassem outros (daí o exemplo do fermento), pois a cumplicidade nas mesmas também era pecado.

O perigo da cumplicidade

A palavra cumplicidade apesar de ter uma conotação quase sempre negativa, pode ter dois lados. Você pode ser cúmplice de algo tanto bom como ruim. A cumplicidade tem haver com participação direta ou indireta em fatos, e a questão é quais tipos de fatos uma pessoa é cúmplice. Se os fatos forem bons, a cumplicidade é boa ou inversamente.

Como explicado no parágrafo anterior, a cumplicidade pode ser o ato de aceitar a injustiça, ou, explicando melhor, a tolerar à injustiça. Isso não significa que a pessoa a pratique, mas sim que a permite sem se preocupar com seus efeitos. A tolerância à injustiça resulta em um apoio indireto, como ocorreu com a igreja em Tiatira, quando Deus a repreendeu por tolerar Jezabel. Este texto de Apocalipse 2:18-29 associa a pessoa de Jezabel às práticas do pecado realizadas por seus membros. Como o pecado não era corrigido, outras pessoas eram induzidas a pecar também. É como uma criança que ainda não entende o que é errado, mas, ao ver outra criança cometer um erro e não ser corrigida, ela passa a ter a mesma prática do erro e acredita estar fazendo certo, tudo isso devido à falta da correção.

Paulo questiona os coríntios sobre o porquê de eles nem ao menos se entristecerem ao saber que graves erros estavam sendo cometidos dentro da igreja. Os coríntios se tornaram cúmplices do pecado interno devido à tolerância e permissão, amontoando assim culpa sobre si.

A cumplicidade é definida da seguinte forma

"refere-se à participação ou conivência em atividades ilícitas, prejudiciais ou moralmente questionáveis. Uma pessoa é considerada cúmplice quando, de alguma forma, está envolvida, apoia ou aceita as ações de outra pessoa, muitas vezes ignorando ou consentindo com comportamentos inadequados."

Baseado na definição e no texto lido, vemos que os que têm realmente, fome e sede de justiça, são aqueles que de maneira nenhuma se conformam com o pecado, ignorando atos imorais, devassos, contrários à Lei de Deus. Os que têm fome e sede de justiça querem que todos tenham uma vida plena para que todos sejam livres.

Algumas das práticas pecaminosas que têm sido amplamente aceitas nas igrejas de hoje:

  • Sensualidade feminina - As mulheres cristãs já não têm preocupação com o pudor e as igrejas não têm ensinado sobre isso. O culto ao corpo é visto como algo bom para ser seguido.
  • Avareza - É o apego às riquezas. Em muitos casos, o avarento nem se dá conta de seu apego. É comparado na Bíblia como idolatria (Colossenses 3:5; Mateus 6:24). Pessoas que não se satisfazem com o que têm, mas, andam sempre "ajundando tesouros na Terra" (Mt 6:19-21).
  • Descaso com o próximo - Jesus chegou a dizer que é o mandamento mais importante, junto com o amor a Deus. Ignorar isso é ignorar todo ensino de Jesus.
  • Descaso com a reverência - A falta de reverência para com Deus é algo marcante. Pessoas não se importam mais em como se comportam nos cultos, não ensinam mais seus filhos a entenderem o que é o ambiente do Templo, não se importam com o que estão oferecendo a Deus. Os cultos estão passando a ser uma espécie de encontro social.
  • Maledicência - Uma das coisas que causam a maledicência é a inveja e/ou ciúmes. Muitas pessoas que maldizem outras nem se dão conta do mal que estão fazendo. A falta deste ensino têm proporcionado muitas divisões na igreja atual.
  • Ascepção de pessoas - A exclusão de pessoas dentro da igreja ou mesmo fora dela, com grupos que se juntam se autoconsiderando melhores do que outros. A afinidade não pode ser confundida com exclusão.

Existe uma lista bastante complexa sobre coisas que têm sido toleradas na igreja e que não deveriam, mas o objetivo não é apontar os defeitos, mas, observá-los para corrigi-los. Se em sua igreja você percebe que há esses pecados, tente ensinar em sua igreja contra isso. Não permita que os membros vivam em pecado, mas, que através do ensino correto, todos busquem a perfeição.

Infelizmente, por motivos de conveniência, muitas igrejas têm tolerado o pecado. Essa fome e sede de justiça não têm sido observadas em diversas denominações. A denúncia do pecado pode ser algo embaraçoso para aquele que recebe a correção, e resultar no abandono da igreja. No entanto, aquele que verdadeiramente ama a Cristo e Sua Igreja não abandonará o caminho por ser exortado pelo pecado; pelo contrário, ele aceitará a correção e buscará o perdão de Deus e dos irmãos. O desespero pelo perdão de Deus será notório. Vamos analisar o que aconteceu com o rei Davi e a correção que ele recebeu:

(Natã fala a Davi)
“⁷ Tu és este homem. Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel, e eu te livrei das mãos de Saul; ⁸ E te dei a casa de teu senhor, e as mulheres de teu senhor em teu seio, e também te dei a casa de Israel e de Judá, e, se isto é pouco, mais te acrescentaria tais e tais coisas. ⁹ Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom."

2 Samuel 12:7-10

(A confissão de Davi)
" ¹ Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. ² Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. ³ Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. ⁴ Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. ⁵ Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. ⁶ Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. ⁷ Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. ⁸ Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. ⁹ Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniqüidades. ¹⁰ Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. ¹¹ Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo."

Salmos 51:1-11

Pelo amor que Davi tinha por Deus, ele não recusou a repreensão, antes, ouviu ao profeta e buscou em Deus pelo perdão. Isso é fruto de alguém que realmente deseja ser um servo de Deus. Uma igreja que se preocupa muito com números e não em conversões, facilmente vai ignorar a correção de seus membros, porque muitos não serão como Davi, serão rebeldes. Mas, estes, já não são convertidos então, o simples fato de fazer parte de uma igreja, não os salvará.

Onde está a Lei?

Estamos falando na prática da Lei, mas, você pode não entender qual é a Lei! Me parece bom termos em mente dois textos para a prática dessa Lei. A primeira, vamos aos Dez Mandamentos, que foi dada a Moisés para ser ensinada a todo povo Hebreu e também para nós gentios. Você pode ver esse texto no livro de Êxodo no capítulo 20 versos 1 à 17. E o outro texto é o próprio Sermão do Monte, onde Jesus explica os seus mandamentos.

Quando Roma "institucionalizou" o cristianismo falsamente, a nova religião tentou mudar os mandamentos alterando especialmente dois deles, como "Não farás para ti imagem de escultura" que foi removido dos ensinos da religião romana e a alteração do mandamento sobre a guarda do sábado, que passou a ser "guardar domingos e festas".

Quando falamos em cumprir os mandamentos de Deus, ou melhor dizendo, em seguir a Sua Lei, estamos nos referindo à prática ensinada pelas Escrituras Sagradas. Muitos textos bíblicos têm sido interpretados de forma incorreta para sustentar doutrinas não cristãs. Portanto, é importante estudar as Escrituras na íntegra e questionar todo ensinamento controverso em relação à Bíblia. Lembre-se: os homens podem falhar em seu entendimento e ensinar incoerências, mas, além dos erros involuntários, existem os maliciosos, que não desejam ensinar as Escrituras, mas sim aproveitar-se delas para um propósito pessoal.

A justiça injusta

O maior problema dos fariseus não era a prática da Lei; na verdade, isso não era errado. O problema era que eles se julgavam melhores do que outros por praticarem a Lei. Este é um risco que corremos ao buscar a Lei de Deus com muito apego e acabarmos nos considerando superiores àqueles que não a praticam. Podemos estar no caminho certo ao seguir a Lei, mas não foi dada autoridade a ninguém para julgar os outros. Nossa prática dos mandamentos de Jesus deve ser por amor a Ele, e não para nossa própria glória. Na verdade, aqueles que buscam dessa forma estão praticando idolatria, um dos pecados mais abomináveis diante de Deus.

Devemos ensinar a retidão, que é a prática da Lei, e corrigir nossos irmãos, mas se confundirmos o ensino e a correção com julgamento, estaremos cometendo um pecado maior. A Lei nos guia e não deve ser uma espécie de adorno. Foi isso que destruiu a fé dos fariseus, pois eles acreditavam somente nas obras que praticavam.

E finalizando esta primeira parte do verso, vamos lembrar que os que têm fome e sede "serão fartos". Talvez, essa parte da frase seja profética, ou seja, será no futuro na Glória, onde todos os que amaram a justiça agora estão salvos e junto de Deus, nunca mais haverá injustiça, então, haverá "fartura de justiça". Mas, não podemos excluir que já podemos ver indícios dessa fartura hoje em nossa vida terrena. A Igreja de Cristo que busca em sinceridade por Sua justiça, recebe de Deus suas respostas, como podemos ver nas histórias de vários avivamentos e vários moveres de Deus que ocorrem atualmente. Esse mover que acontece nos dias de hoje e que sempre aconteceram ao longo da história, me fazem crer que são cumprimentos da frase "serão fartos". Onde a justiça de Deus reina, tudo de bom pode acontecer.

2. "...bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia"

A palavra "misericórdia" tem sua origem no latim. Ela deriva da combinação das palavras "miserere" (que significa "ter piedade" ou "ter compaixão") e "cordis" (que significa "coração"). Portanto, "misericórdia" pode ser entendida etimologicamente como a expressão de compaixão ou piedade do coração. A palavra "misericórdia" é frequentemente usada para descrever um ato de bondade, compaixão ou perdão, especialmente em contextos religiosos e éticos. Ela está presente em várias tradições religiosas, refletindo a ideia de mostrar compaixão e cuidado para com os outros, especialmente em momentos de sofrimento ou necessidade.

Ser bom para os outros, sem pedir nada em troca, nada de valor e também nenhum reconhecimento. Os atos misericordiosos de Jesus sempre foram assim. Não havia Nele nenhum ímpeto para que o pusessem em um pedestal dizendo que Ele era quem fazia os milagres, que ensinava com autoridade, etc.

Os misericordiosos são os que seguem os exemplos de Cristo. Seu coração arde por fazer o bem a todos os quanto puderem e não se cansam disso. São aqueles que têm em seu coração uma abertura em perdoar, sempre procuram não guardar mágoas. Também são aqueles que têm a capacidade de pensar no seu próximo sem reservas. Muitos são capazes de tirar de si mesmo para dar ao outro. Conhecemos várias passagens bíblicas dos atos de misericórdia de Jesus e também dos apóstolos, como por exemplo, a cura de um paralítico por Pedro em frente ao Templo (Atos 3:1-8), mas o que podemos ver de atos de misericória atualmente?

Atos de caridade

Há alguns anos, vi um documentário de um projeto chamado "Cristolândia" (https://cristolandia.org.br/) onde missionários empenhados em cuidar de pessoas viciadas e não somente dos viciados, mas também de suas famílias. O projeto começou inicialmente em São Paulo, na chamada cracolândia, mas, hoje, aborda vários estados do Brasil. O único foco do projeto foi restaurar vidas, pregando a Jesus para eles. Há uma quantidade imensa desses frutos, mas até hoje, eu não sei o nome dos pais deste projeto. Pessoas que não fizeram caso de reconhecimento, somente se empenhavam nos resultados deste trabalho e Deus os honrou. Eles (responsáveis pelo projeto e volutários) estão alcançando misericórdia!

Mesmo no meio secular, várias pessoas já viram e admiraram este trabalho pelo fato de que muitas pessoas alcançaram a cura por meio deste projeto. Agora, pense comigo: um projeto que tem abençoado vidas, resgatado pessoas da morte, restaurado famílias é uma bênção! E o interessante é que podemos ser parte dos misericordiosos que fazem deste trabalho!

Em muitos casos, nossa situação de vida não nos permite fazer um trabalho desses no campo, mas, podemos abençoar este trabalho com nossas ofertas, sejam em dinheiro ou outras formas. Pode até parecer estranho este comentário, mas eu penso: se cada igreja se comprometesse em doar R$50,00/mês para projetos como estes, com certeza, teríamos um mundo mais cheio de misericórdia. Eu realmente acredito que se pudermos abrir mão de nós mesmos o tempo inteiro, para contribuir para ajudar outras pessoas que nunca vamos conhecer, estaremos sendo misericordiosos.

Atos de compaixão

A compaixão está ligada a sentir a dor do outro. Para falar de compaixão, podemos pegar um pouco do parágrafo anterior, mas, neste, eu vou focar no ato da intercessão. O verdadeiro intercessor, fica incomodado em ver seu irmão sofrendo e por isso, faz questão de interceder a Deus por ele. Não intercede de qualquer forma, mas, busca com ímpeto a resposta favorável de Deus sobre a vida do intercedido. O intercessor abre mão de seu tempo para poder orar e jejuar para que Deus livre seu amigo.

Quando falamos em compaixão, sempre nos lembramos nos atos de misericórdia e esquecemos (em alguns casos) de que a intercessão também é um ato de compaixão, porque se cremos que Deus poderá restaurar, curar, livrar, etc, uma vida, podemos entender que nossa oração será uma ferramenta para abençoar pessoas.

Atos de amizade

Ser amigo também é um ato de um misericordioso. Saber que alguém o ama e o quer bem; poder sentir o amor do outro é algo imensurável. Nas Escrituras, vemos como os atos de amizade salvaram pessoas. Lembro-me do texto de Marcos no capítulo 2, onde um paralítico é levado até a Jesus. As dificuldades foram muitas para levarem o paralítico, mas, os verdadeiros amigos não desistiram dele e por sua resiliência, conseguiram. Os amigos salvam vidas.

Uma das coisas que mais alegram o coração de Deus é nosso amor ao próximo, por isso, que Jesus o chamou de mandamento. Se fazemos bem ao nosso próximo através de atos de amizade, então, estaremos alegrando a Deus, logo, sua misericórdia também nos alcançará.

Perdoar para ser perdoado

A misericórdia é imprescindível para alcançarmos o perdão de Deus. Quando falamos em misericórdia, como vimos, envolvem várias coisas, mas, entre elas, o perdão. Perdoar as pessoas é uma coisa em muitos casos, difícil demais para fazer, afinal, nossas lembranças sempre trazem à superfície memórias que deveriam estar afundadas. Mas, Deus não nos pede que tenhamos aminésia, ele nos pede para perdoarmos uns aos outros, mesmo que nossas lembranças sejam um desafio para o perdão. Não devemos desistir de lutar à favor do perdão.

Esse é o ato de misericórdia que considero o mais difícil, porque este, não tem como disfarçar, como por exemplo, a pessoa que faz uma caridade, não pelo próximo, mas para se exaltar. O perdão não nos dá essa "glória" diante dos homens. Mas a importância do perdão é tão grande que se não perdoarmos aos homens, Deus também não nos perdoará. Jesus assim nos ensinou na oração do Pai nosso com a seguinte expressão:

"...perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos nossos devedores" Mt 6:12

Fica claro que Deus nos perdoará na mesma medida que perdoamos. Sua misericórdia nos alcançará na mesma medida que somos misericordiosos.

3. "...bem aventurados os limpos de coração, pois, eles verão a Deus"

Todos somos pecadores e neste mundo, enquanto seres humanos, não deixaremos de ser pecadores, então, surge a pergunta: Quem pode ser limpo de coração?

"...são aqueles cujos os corações Deus purificou, assim como Ele é puro; são purificados pela fé no sangue de Jesus, de toda afeição profana; que sendo purificado de toda imundície da carne e do espírito, vivendo em perfeita santidade no amoroso temor de Deus. Eles são pelo poder de sua graça, purificados do orgulho, pela mais profunda pobreza de espírito, da raiva, de todas as paixões rudes ou turbulentas, pela mansidão e gentileza; de todo desejo, para agradar a Deus e desfrutá-lo..."
John Wesley - O Sermão do monte, p. 50

Em resumo, Wesley declara que são as pessoas que abdicam do mal da natureza humana para viverem em uma vida de busca em agradar a Deus. Não são pessoas sem pecado, mas, que lutam contra ele, o rejeitam e quando o cometem, têm sincero arrependimento.

Deus conhece nosso coração e quando pecamos e nos arrependemos de coração, Jesus "nos abraça" e por seu sacrifício, somos limpos do pecado, logo, uma vez purificados, podemos ver a Deus nas obras de suas mãos. Podemos ver a ação de Deus em nossas vidas e grandes milagres.

Os puros de coração trazem consigo uma paz que só alguém que é completamente entregue a Deus consegue ter. Ele não é ansioso pelo mundo material, mas, é completamente desprendido, sua ansiedade está em viver para Deus e fazer a sua vontade, assim como Jesus fez.

Continua no próximo artigo

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