O Sermão do Monte (parte 3)

¹³ Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. ¹⁴ Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; ¹⁵ Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. ¹⁶ Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.
Mateus 5:13-16

Introdução

John Wesley investiu muitos de seus sermões com ênfase no Sermão do Monte. Segundo ele, o Sermão do Monte poderia ser um paradigma para todo cristão. A expressão "religião do coração" está entre os conceitos de Wesley sobre o Sermão do Monte. Para ele, se a religião fosse apenas algo exterior, era insuficiente; era necessário que a mesma fosse vivida pelo indivíduo, ou seja, a verdadeira crença nasce no interior e seus frutos se manifestam no exterior.

Dentro do conceito da Religião do Coração, vamos agora adentrar a um momento onde Jesus nos ensina que a crença deve ser visível para os outros. Mesmo aqueles que não creem, testemunharão as manifestações de nossa fé. No entanto, para que isso ocorra, algo precisa se transformar dentro de nós.

1. Sal da Terra (v. 13)

Os ensinamentos bíblicos são facilmente divulgados nos dias de hoje, pois vivemos em uma sociedade onde praticamente todos sabem ler, e as Escrituras estão acessíveis em praticamente todos os idiomas do mundo. No entanto, nos tempos antigos, a realidade era completamente diferente. Além das Escrituras serem manuscritas e, portanto, suas cópias extremamente restritas, havia o problema de muitas pessoas não saberem ler. Adicionalmente, não existiam cópias das Escrituras em outros idiomas, o que dificultava a disseminação dos ensinamentos para outros povos. Essa problemática envolve um propósito muito relevante em ser sal, onde vamos percorrer um caminho um pouco diferente do tradicional ao pregar sobre este texto. O propósito de conservar.

Quando mencionei a problemática do acesso às Escrituras no passado, estou tentando revelar-vos que a pregação do Evangelho e as verdades cristãs só conseguiram perdurar devido à força da fé daqueles que conheciam a Jesus e praticavam essa fé. Sua fé genuína e fervorosa conservou as Palavras de Jesus e seus ensinos, mesmo para aqueles que não tinham acesso escrito a tais mensagens. A vida do povo que era o "Sal da Terra" é que proporcionou a conservação do Evangelho, consolidando a fé de milhares de pessoas, até que chegou o dia em que as Escrituras foram compiladas, impressas, traduzidas e espalhadas pelo mundo.

Como conservamos as Escrituras

Para Wesley, as Escrituras só têm um efeito na vida de uma pessoa quando há a aplicação prática das mesmas. Não há Evangelho somente na teoria. Todas as mensagens de Jesus envolvem uma prática de vida. Assim, ser sal implica em manifestar essa fé de forma que todas as pessoas possam "vê-la", afinal, “A fé sem obras é morta” (Tg 2, 17). Obviamente, a fé é algo abstrato, mas seus resultados são palpáveis a ponto de até mesmo céticos terem que admitir que a fé pode mudar a vida de uma pessoa.

A pregação não verbal

Neste texto, Jesus estabelece um paralelo entre o sal e a luz, afirmando que ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo da mesa; ao contrário, a coloca em um lugar onde possa iluminar toda a casa. Fica claro que, com esta declaração, Jesus está enfatizando que o testemunho pode afetar diretamente a vida das pessoas próximas, transmitindo uma mensagem mesmo sem palavras. O modo de vida de um cristão precede sua pregação verbal e confere credibilidade a ela, desde que sua conduta esteja em conformidade com suas palavras.

Quando observamos o mundo antigo e a Igreja do primeiro século, percebemos que, mesmo sendo perseguidos e mortos, cada vez mais pessoas criam e seguiam o Evangelho. A resposta para esse crescimento é óbvia: os crentes do primeiro século viviam o Evangelho. Sua reputação era incontestável; esses homens eram irrepreensíveis quanto aos mandamentos, buscavam a salvação de almas mais do que seus próprios ansieios, tudo o que eles desejavam era a salvação de todos. Por meio deles, muitas pessoas foram alcançadas, mesmo sem conhecê-los pessoalmente. Pense: quantas pessoas ouviram a pregação do Evangelho de Cristo através do Apóstolo Paulo, sem sequer conhecê-lo? Como isso poderia acontecer? É simples: as pessoas comentavam sobre o que Paulo pregava e como ele vivia. Isso chamou a atenção de muitos que desejavam imitá-lo.

Em um âmbito mais próximo, a vida de John Wesley também foi uma referência, e por isso ele teve seguidores, mesmo que não almejasse isso. Sua conduta de vida foi uma pregação em si mesma, e outros passaram a crer no Evangelho por se inspirarem nele. Entre seu legado, ficaram as marcas de um profundo amor ao próximo, especialmente pelos marginalizados, bem como sua vida de contínua oração e aprendizado das Escrituras. Tudo isso serviu de inspiração para homens de sua época e continua sendo um exemplo a ser seguido até hoje.

Ser sal é dar sabor, mas também é conservar todas as mensagens apostólicas de forma a torná-las seu próprio estilo de vida e, assim, afetar positivamente a vida das pessoas que estão próximas, não sendo necessariamente conhecidas, mas também aquelas que não fazem parte do seu círculo de amizade. A conduta de vida mostra o que você realmente crê. Aquele que tem o Evangelho como sua regra de fé pratica tudo o que foi aprendido através das Sagradas Escrituras, seja dentro da igreja ou fora dela.

O sal insípido e a luz apagada

O sal é obtido da natureza por dois meios: cristalização da água do mar ou fragmentação de rochas salinas. Se o sal não for purificado, ou seja, não for separado do meio em que se encontra, nunca terá utilidade. Da mesma forma acontece com aqueles que desejam ser servos de Deus; eles devem ser separados do mundo, pois se agirem como o mundo, não poderão servir a Deus, pois serão sal sem sabor e luz apagada. Embora seja algo talvez até irrelevante de mencionar neste estudo, parece que, mesmo sendo uma expressão tão conhecida, ainda não é compreendida pela maioria.

Precisamos ficar atentos a um fato: existem dois tipos de sal, um bom e um ruim. Tentando explicar melhor meu ponto de vista, quero dizer que não são as impurezas que são preocupantes, porque elas não têm nada a ver conosco, não se parecem, por isso não podem se misturar, mas aqueles que parecem ser sal e em realidade não são. São pessoas que parecem ser cristãs, mas não são. Elas são sem sabor e não conservam. Ao invés de realçar o sabor, tornam-no amargo; e em vez de iluminar, trazem a escuridão. Uma das preocupações de Jesus e, mais tarde, dos apóstolos, foram os falsos ensinamentos. As pessoas são facilmente enganadas quando estão em situação de dependência, especialmente emocional. É nesse momento que os enganadores entram em ação e começam uma estratégia para ludibriar pessoas e torná-las seguidoras.

Mas, nem mesmo uma pessoa boa de lábia pode enganar para sempre. Seus frutos vêm à tona e as verdades começam a aparecer. Então, a frustração vem e os "discípulos" se decepcionam e desistem de tudo. Mas, diante a todo esse cenário de perdas, há algo que nunca falha: O Fruto do Espírito.

No livro de Gálatas, capítulo 5 vemos a afirmativa de Paulo:

"Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança."
Gálatas 5:22

Acredito que uma pessoa cheia do Espírito nunca deixe de ser Sal ou Luz. Onde ela vai, o Fruto do Espírito a acompanha. Ela não apenas dá sabor ou ilumina, mas também traz um aroma agradável. Pessoas cheias do Espírito são agradáveis, repletas de palavras de sabedoria e humildade; trazem paz mesmo em momentos de aflição. Elas conseguem pregar sem necessariamente usar palavras, pois suas ações falam por si só.

O Fruto do Espírito só pode vir de Deus, e é por isso que pessoas cheias de Deus têm o poder de iluminar as mais profundas trevas ou realçar o sabor da vida. Elas não enganam ninguém, porque seu modo de vida fala por elas, não suas palavras. Palavras podem ser mentirosas, mas o estilo de vida denota a verdadeira intenção de uma pessoa.

Assim, o que Jesus quis dizer com estas palavras foi que nosso estilo de vida deve nos apresentar para o mundo. Aquilo que somos será nossa carta de recomendação e por isso, devemos nos preocupar com todas as áreas de nossas vidas. Há pessoas que tentam ser santas somente na igreja (sal insípido) e Jesus quis dizer exatamente que devemos ser santos em todos os lugares, especialmente onde não há sabor. Viver em santidade não é dizer "eu aceitei Jesus", mas, é realmente seguir os seus passos e caminhar como Ele determinou sem se desviar nem para a esquerda e nem para a direita.

As Escrituras são para sempre

¹⁸ Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da Lei, sem que tudo seja cumprido. ¹⁹ Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus. ²⁰ Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus.
Mateus 5:18-20

Muitos acreditam que o que foi ensinado como Lei no passado acabou quando Jesus veio. Há uma confusão sobre o conceito de Graça. Muitos acreditam que a Graça elimina a necessidade da Lei, mas as Escrituras nos afirmam que sem Lei, não há como ter Graça. Veja o que Jesus disse sobre a justiça dos fariseus: "... se a vossa justiça não exceder a justiça dos fariseus". Como já estudamos, a manifestação da justiça se dá pela prática ou cumprimento da Lei. Em palavras mais simples, aqueles que são verdadeiramente justos são os mesmos que andam segundo a Lei. O que Jesus quis dizer então sobre exceder a justiça dos fariseus? Antes de responder a pergunta, vamos ver o que significa realmente a Graça.

Se eu perguntasse o que é o contrário de Graça, provavelmente a resposta indefinida ou contraditória, porque as mensagens cristãs sobre Graça abordam um princípio não muito bíblico (pelo menos nos casos que já vi) e sugerem uma Graça onde o pecador passa a receber pelo simples fato de ser membro de uma igreja. Muitos acreditam que o contrário da Graça é a Lei e isso é extremamente equivocado. Então vamos à primeira questão: o que é Graça? Já sabemos que a Graça é o favor imerecido (Efésios 2:8-9) que Jesus fez por nós, não somente na cruz, mas em todo o processo, porque devemos lembrar que depois que o homem caiu, já havia um propósito de Deus para "reajustar" a humanidade para vivermos em paz com Deus. Este plano era justamente Jesus se tornar um ser humano, habitar entre nós, ser morto por nós e ressuscitar, nesse momento, a graça de Deus já estava iniciada, porque já não éramos merecedores e Deus quis recomeçar.

Se a Graça é o favor imerecido que nos permite sermos salvos, então obviamente o contrário de graça é verdade. Qual é a realidade ou a verdade de todos nós? Somos pecadores e desistituídos da glória de Deus como assim diz o texto: "pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua Graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus" Rm 3:23-24

Nas palavras de Paulo, podemos consolidar nosso entendimento de que, sem a Graça, resta-nos a verdade de que somos afastados de Deus por nossa natureza pecaminosa e não temos parte com Ele. No entanto, através da Graça, agora podemos ser justificados e, assim, tornarmo-nos merecedores, não pelos nossos méritos, mas pelos méritos de Cristo, que fez o que ninguém jamais poderia fazer por nenhum de nós.

E a Lei? O que significa? Para facilitar o entendimento da necessidade da Lei e o motivo pelo qual a Graça não anula a Lei, vou dar um exemplo muito simples. Imagine que você está dirigindo em uma estrada desconhecida e está usando o GPS. Em determinado momento, o GPS anuncia: "vire à direita para pegar a estrada tal". Em outro momento, o GPS alerta sobre um problema na estrada no quilômetro tal, etc. Observe que o GPS não dá ordens, ele não dirige por você, mas mostra o caminho, avisa sobre os problemas na estrada e permite que você chegue ao destino, mesmo que não conheça o caminho.

Como as Escrituras dizem, a Lei jamais poderia salvar o homem, porque ela não tem esse poder, mas, ela sinaliza os pontos para andar sobre o Caminho e não se desviar dele. Sem andar pelo Caminho, você nunca chegaria ao destino. O Caminho é Cristo e para andar por Ele, precisamos conhecer seus mandamentos. Observe o texto de João:

Aquele que afirma: “Eu o conheço”, e não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso e a verdade não está nele; I Jo 2:4

Então, sem a Graça, só nos resta a verdade de que não temos nenhum mérito para nos aproximarmos de Deus e, para recebermos a Graça, precisamos ser praticantes da Lei, que é o que nos permite andar pelo Caminho de Cristo. Muitos acreditam equivocadamente que, por ser a Graça o "dom gratuito de Deus" (Romanos 6:23), não temos nenhuma responsabilidade para recebê-la, mas isso não é verdade. Jesus mesmo foi quem disse isso no texto: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me." (Lucas 9:23). Observe: a Graça é gratuita, mas não é barata! O paradoxo da frase é proposital, pois na verdade ainda temos um preço para pagar. Esse preço implica em desejarmos andar com Deus de todo o coração e, para isso, teremos que seguir seus mandamentos, ou seja, Sua Lei.

E os fariseus?

Os fariseus eram completamente devotos à Lei e não estavam errados nisso. Seu erro não foi em praticar a Lei, mas a motivação desta prática estava errada. John Wesley chega a nos confrontar fazendo várias perguntas, como: "Vocês jejuam duas vezes por semana, vocês vão às sinagogas todos os sábados para aprenderem das Escrituras, vocês dão o dízimo de tudo o que ganham, vocês dão esmolas?" e por aí vai. Certamente, John Wesley confrontou os cristãos de sua época, porque sabia que os mesmos criticavam os fariseus, mas não cumpriam o que as Escrituras diziam, pois essas práticas (que eram dos fariseus) também são para todos nós! O erro dos fariseus começava em achar que, por fazerem isso, eles eram mais merecedores do que os outros. Podemos ver isso claramente no texto sobre o fariseu e o publicano:

"¹°dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano. ¹¹ O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. ¹² Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo. ¹³ O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!

Este texto é muito claro, pois mostra como o fariseu se sentia em relação à prática da Lei. Mas, como já mencionei, sua motivação era ser "grande" diante de Deus. Um pensamento estulto, pois mesmo com toda a prática da justiça (refiro-me ao cumprimento da Lei), ninguém nunca deixará de ser pecador. Portanto, concluímos que nunca seremos melhores do que ninguém.

Para exceder a justiça dos fariseus, precisamos começar pela nossa motivação na prática da Lei, que neste caso não é para sermos maiores do que outros, mas por amar a Deus e desejar sempre estar próximos Dele, pois a desobediência é pecado e o pecado nos separa Dele.

Além de sermos praticantes da Lei pelo amor a Deus, seremos praticantes da Lei por amar nosso próximo. Vamos ver um exemplo disso no próprio texto:

"²⁹ Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno." Mateus 5:29

Talvez Jesus tenha dito essa frase porque os fariseus se importavam apenas com o que era externo, ou seja, aquilo que poderia ser visto pelos homens. No entanto, Jesus traz uma interpretação mais profunda da Lei que já existia. Essa interpretação nos faz pensar que se existe a intenção de pecar, o pecado já está presente. O texto diz: "se o teu olho direito te escandalizar", o que significa que se o teu olho te estimular a qualquer intenção impura, então ele deve ser "arrancado" de você. Bem, o olho sozinho não pode fazer nada, então, como entender realmente isso? O que vemos nos faz pensar em algo, e os pensamentos procedem do nosso interior e nos fazem pecar, por isso a preocupação de Jesus com o interior. Se não há pecado no interior, não há como o exterior pecar. Veja o texto ainda no livro de Mateus:

"Porque do coração é que procedem os maus intentos, homicídios, adultérios, imoralidades, roubos, falsos testemunhos, calúnias, blasfêmias. " (Mateus 15:19)

A referência de Jesus ao coração é porque Ele está falando do interior do indivíduo. É no interior que nascem todos os pecados. Então, quando pensamos sobre a questão do "olho que te faz pecar", devemos arrancá-lo, significa que se algo que vemos nos faz ter pensamentos impuros, devemos deixá-lo. Algo te faz pecar em sua vida? Por exemplo, teu celular, tua televisão te fazem pecar? Arranque-o de tua vida. É isso que significa o texto.

A prática do amor

⁴³ Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.⁴⁴ Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; ⁴⁵ Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. ⁴⁶ Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? ⁴⁷ E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? ⁴⁸ Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.

O que é o amor? Atualmente, vivemos um mundo onde este conceito está completamente distorcido. A visão de amor nos dias de hoje é que você ignore toda a razão de verdades óbvias, concorde com os erros nocivos e seja devasso. Não é possível definir o amor de forma simplista em um único comportamento ou ação. É uma experiência complexa que pode se manifestar de várias maneiras, incluindo ajudar alguém a evitar comportamentos autodestrutivos. Mas, baseando no amor de Cristo, vemos que devemos amar como Ele amou. Apesar de confrontar pessoas, Ele não estava preocupado com os conceitos dessas pessoas e sim com os efeitos que seus ensinos exortativos produziriam nelas. Para exemplificar melhor isso, vamos ao caso da mulher samaritana (João 4:5-40).

Jesus se depara com uma mulher que tinha uma vida extremamente complicada (ainda mais pra época). Ela já havia tido cinco maridos e o seu último relacionamento era com um amante. Jesus ao se encontrar com ela, se apresenta como uma "fonte de águas vivas" e depois, disse a ela sobre seus erros, mas lhe deu esperança dizendo que ela poderia receber das águas vivas.

Jesus não se preocupou com a cultura da mulher, com sua impressão sobre Ele mesmo ou suas palavras, mas se preocupou na salvação daquela mulher - isso foi amor. No conceito atual, se você tentasse corrigir uma pessoa com as mesmas práticas você seria tido como desrespeitoso e rancorosso. Veja que os conceitos são completamente invertidos sobre a questão do amor, pois neste caso seria visto como "amor" permitir que a pessoa se autodestrua, pois ela está fazendo o que gosta.

As pessoas frequentemente associam o amor ao afeto (o que não deixa de ser verdade), mas o verdadeiro amor requer ação. Pense: se um pai vê o filho comendo algo que lhe fará mal, mas permite que ele coma porque sabe que o filho está satisfeito com o sabor do que está ingerindo, isso seria amor? Obviamente que não! O amor do pai impediria que o filho consumisse qualquer coisa que lhe fizesse mal. Assim deve ser o amor que devemos ter pelo nosso próximo: um amor que ensina, exorta e também se aproxima, fazendo a pessoa sentir-se bem. É um amor afetivo, mas também corretivo.

No caso do episódio da mulher samaritana, foi exatamente isso que aconteceu. Conhecemos o amor por seus efeitos. Por exemplo, os efeitos da exortação de Jesus para a mulher foi uma mudança de vida, ela passou a ser respeitada e principalmente, foi alcançada para a salvação. Os efeitos são inegáveis, pois são fatos e não opiniões sem nenhuma base bíblica ou mesmo antropológica.

Uma pequena ressalva

O cristianismo precisa entender melhor este amor e se preocupar mais com sua prática. Em minha opinião, estamos muito preocupados com templos e ornamentos, mas pouco preocupados com a salvação das almas que entram ali. Olhando para a vida e pregação de Jesus e posteriormente dos apóstolos, não vi em momento algum que eles estavam preocupados com igrejas de tamanho imenso, belíssimas e famosas, mas sim com a mensagem que era levada para todos os cantos da Terra. Essa preocupação tem sido reduzida ao longo do tempo, o que me faz pensar nas palavras "por se aumentar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará" (Mateus 24:12). Se a mensagem não traz salvação de almas, ela é vã. Voltando aos versos 18 à 20, vemos que Jesus disse que se alguém distorcer a Palavra (como Ele disse, "retirar um jota ou um til") e ensinar mentiras (como dito: "Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos céus"), esse seria punido. O motivo disso é simples, pois se a mensagem verdadeira de Cristo for usada para benefício próprio, o que o fizer será castigado.

O amor pelas almas, que a Igreja deve reviver, é aquele que está preocupado com a propagação da mensagem do Evangelho, as boas novas de Jesus. É a mensagem que ensina sobre o pecado, para que a pessoa deixe de pecar, a mensagem de esperança não apenas de uma glória terrena, mas de uma vida eterna maravilhosa ao lado de Cristo. Devemos demonstrar o amor ao próximo permitindo que mais pessoas conheçam as Escrituras, retenham-nas e tirem vida delas. As boas obras, como abençoar pessoas em suas necessidades, ser amigo, chorar com os que choram, tudo isso faz parte do amor que Jesus está falando e tudo isso faz brotar vida nos terrenos mais áridos e improdutivos, como um milagre que o próprio Deus faz acontecer.

Continua no próximo artigo

Nenhum comentário: