Romanos 8:28

"Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito"
Rm 8:28

Você acorda de manhã, toma o seu café, se arruma e pega a chave do seu carro para ir para um passeio. Quando tenta ligar o carro, o mesmo não pega e seu passeio é adiado.

Não sabemos, mas, o que poderia ter acontecido se você tivesse saído de casa? Talvez um livramento de algo no caminho, ou então uma bênção que seria necessária a sua presença em casa para recebê-la, ou ainda uma pessoa que precisaria de sua ajuda naquele momento, etc. Há um grande número de causas possíveis e algumas vamos conhecer, outras não. O fato é que o apóstolo Paulo afirma que todas as coisas cooperam, mas há uma condição: "...para aqueles que amam a Deus e que são chamados segundo seu propósito."

1. Tudo e todos estão sujeitos à vontade de Deus

A cada instante de nossa vida, algo está acontecendo conosco ou ao nosso redor. Muitos têm a inclinação de achar que se algo não sai como desejado, é uma ação do adversário, mas o fato é que se cremos que o inimigo tem alguma independência, ou seja, se ele consegue fazer algo sem a permissão de Deus, cremos também no absurdo de uma limitação de Deus, pois isso implica que Deus não conseguiria ter o controle de tudo. Isso é uma heresia grave.

Quando algo aparentemente não dá certo para o homem de Deus e mesmo que os muros se levantem, isso está sob a permissão de Deus. Mesmo nos momentos difíceis da vida, Deus tem um propósito neles. A dor nem sempre é uma derrota; as falhas não devem ser motivo de desistência; a limitação não é incapacidade. Em todos os momentos da vida, há uma lição, uma nova experiência; isso já faz parte de um dos propósitos de Deus.

Nenhum sofrimento condiz com o desejo de Deus para a humanidade; contudo, a permissão de Deus para tal coloca o homem dentro de Seu plano. Lembremo-nos da história de José, filho de Jacó: Ele não teria alcançado a conclusão do propósito de Deus se não tivesse passado por momentos de aparentes derrotas, para depois de tudo, alcançar sua vitória. Paulo, ao se ver em perseguições e dores, mesmo em meio a tudo isso, exclamou: "Tudo posso Naquele que me fortalece", pois ele [Paulo] havia entendido que tudo que ele havia passado colaborava para sua vitória, que era levar o Evangelho.

Os exemplos bíblicos são abundantes, mas vou me ater aos já citados. Se conseguimos ver que mesmo na mais profunda dor, Deus está agindo, tudo em nós será diferente, pois até mesmo nossa esperança será renovada. E se algo nos edifica, como não virá de Deus? Por mais difícil que pareça, em muitos casos, os momentos de dificuldades são a melhor escola para aprendermos a ter fé. Por isso mesmo, o apóstolo Paulo cita um caminho para crescermos na fé. Veja:

"...a tribulação, traz a paciência, a paciência experiência e a esperiência, a esperança..."
Rm 5:2-4

Veja bem que Paulo inicia o capítulo 5 falando da Fé. Segundo o caminho de Paulo, a tribulação leva à esperança, mas por que comparei com a fé? Ao lermos o livro de Hebreus, no capítulo 11, onde o autor define a Fé, vemos o seguinte:

"... a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem"
Hb 11:1

O que é o fundamento da "espera"? É a esperança! Ou seja, quando lemos que a tribulação produz paciência, experiência e esperança, estamos falando da edificação de nossa fé, a qual não adquirimos por vontade própria, mas o Espírito Santo nos leva até ela por meio das experiências que vivemos.

Concluindo esta seção, compreendo que a cada dia vivido, cada conquista, cada desafio e até mesmo cada derrota podem contribuir para a edificação. Por isso, entendo que tudo o que passo tem um propósito ainda maior à frente. Como citado no exemplo, a fé é um desses propósitos; observando que sem ela, é impossível agradar a Deus (Hb 11:6). Quanto mais nos aproximamos Dele, se algo, mesmo que aparentemente ruim, contribui para minha edificação na fé, esse momento é de Deus.

2. A importância da experiência

"muitos ainda confundem conhecimento com sabedoria"

Uma frase discreta de um dos filmes da série Star Wars dita ao personagem Obi-wan Kenobi. Na minha visão, essa frase está completamente correta. Entenda: o conhecimento é o conjunto de coisas que aprendemos sobre o mundo, sobre uma área profissional, comportamento, sobre um hobby, etc. A sabedoria trabalha o conhecimento para lidar com a vida. Por exemplo, um psicólogo estuda o comportamento humano e se profissionaliza nisso; então, ele adquire conhecimento, mas se, ao exercer a profissão, ele não tem paciência para ouvir seus pacientes, de nada vale seu conhecimento, pois lhe faltou sabedoria. A sabedoria não se aprende em escritos, não existe aula de sabedoria, pois ela é adquirida nos processos que passamos na vida, daí a importância da experiência.

Contrariamente ao que muitos pensam, a sabedoria não vem exclusivamente dos acertos; na verdade, a maior parte da sabedoria vem dos erros! É quando você erra, analisa os resultados, os corrige e, ao refazer ou passar novamente por uma situação, você saberá qual caminho não tomar para não errar novamente! Mas, para usar os erros como um caminho para a sabedoria, precisamos ter a sabedoria de ouvir e assumir que erramos! Uma frase que parece redundante, mas é essencial. Você pode chegar à conclusão de um erro sozinho, "ouvindo" sua consciência; em outros casos, pessoas vão te falar sobre eles. Infelizmente, nem todos nos falam de nossos erros com o desejo de nos ajudar; contudo, neste estudo, vou considerar somente os casos positivos daqueles que trazem suas críticas de forma construtiva.

Um exemplo prático de aprender com seus próprios erros é o de Agostinho de Hipona. Em seu livro Confissões, ele cita vários episódios de sua vida dos quais se arrepende, e um que me chamou a atenção foi sobre as peras...

Agostinho conta que ele e alguns amigos invadiam o terreno de um vizinho para roubar peras. Mas, ao pegarem as frutas, eles davam uma mordida e logo em seguida as descartavam. Ele mesmo afirma que o prazer dele não estava em comer a fruta, mas sim no roubo da mesma.

Obviamente, Agostinho demonstra um verdadeiro arrependimento sobre isso, mas esse arrependimento provavelmente não ocorreria se ele não refletisse sobre seus feitos e assumisse seus erros sem tentar se autojustificar. Uma das maiores dificuldades que as pessoas enfrentam ao se arrependerem é o uso de várias maneiras para se autojustificarem, recorrendo aos argumentos mais "escabrosos" possíveis.

Os erros de Agostinho foram usados para lembrar o que não devia mais fazer. Serviam agora para lembrar que Deus não se agradava de tais feitos. Seu arrependimento se tornou uma porta aberta para Cristo em sua vida e uma inspiração para nós até hoje.

Você pode estar se perguntando: onde tudo isso tem a ver com o texto de Romanos 8:28? As coisas de Deus são adquiridas por experiência, a qual muitas vezes é descartada. As experiências nos trazem sabedoria, como já foi mencionado. Portanto, para compreendermos os porquês de várias coisas que nos acontecem, é necessário possuir sabedoria. A leitura de Romanos 8:28 pode ter um efeito contrário se não for corretamente compreendida. Pense: se todas as coisas ocorrem para o bem, então uma pessoa que acredita que tudo o que vive está ocorrendo para o mal pode entender que foi rejeitada por Deus e, em vários casos, desistir da caminhada, muitas vezes sem retorno. É necessário entender que nem toda tempestade na vida significa que o mal está vindo. Existem tempestades que nos levam a ver coisas extraordinárias que não veríamos se elas não acontecessem (Mt 14:22-36).

A sabedoria vai nos esclarecer que o 'bem' nem sempre é o que achamos que é. O bem que Deus tem para nós, em muitíssimos casos (esse superlativo não é à toa!), não é visto quando estamos passando por um momento de 'estrada escura'. Em muitos casos, só vamos enxergar o bem lá na frente, ou em alguns casos, só na Glória Eterna. A estrada escura à qual me refiro são aqueles momentos da vida onde tantas coisas difíceis acontecem e, para piorar, quando você ora, parece que Deus não te escuta.

O "Bem" que Deus tem para nós começa pelo relacionamento com Ele, o qual trará como resultado um crescimento de nossa fé e de nossas experiências com Deus, e, em seguida, um relacionamento mais intenso com nossos irmãos. Depois disso é que as outras coisas vêm. O que estou tentando transmitir é que não existe bem algum em possuir muitas posses e não ter paz com Deus, pois, como diz o texto de Salomão: "as riquezas não o deixam dormir" (Eclesiastes 5:12).

Não estou afirmando que as posses são más, mas que fique claro: se o coração do homem estiver nelas, elas não são uma bênção; são uma maldição. Nada pode ficar acima de Deus em nossas vidas; caso isso aconteça, para corrigir, Deus pode retirá-las. Aos olhos de muitos, pode parecer um mal, mas é o bem manifestando-se em sua vida, pois se as posses o escravizam, é melhor ser livre delas.

Usei as posses como exemplo, mas o fato é que existem muitas coisas que são uma maldição para nós, e Deus pode decidir removê-las de nossas vidas para nos aproximarmos Dele; isso é o Bem.

3. A condição: Amar a Deus

No decorrer de minha caminhada como instrutor de vários alunos que tive, achei interessante que o ponto chave deste verso não é observado. As pessoas têm muita afinidade com o texto "todas as coisas cooperam", mas o texto segue dizendo: "para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito".

Sinceramente, se você leu a segunda parte do verso com atenção, meu comentário a seguir chega a ser irrelevante! Todas as coisas vão cooperar para aqueles que amam a Deus e que são chamados por Ele. Muitos entendem a expressão "amar a Deus" de forma completamente equivocada, interpretando-a como um sentimento. Na verdade, o amor é, antes de tudo, uma atitude, e o sentimento surge como um fruto desse amor.

Vamos pensar nas palavras de Jesus. Quem são aqueles que amam a Deus, segundo as palavras de Cristo? Sem medo de dizer, eu cito o texto de joão:

Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
João 14:21

Perceba que Jesus não está falando de sentimentos, mas de atitudes: "aquele que tem os meus mandamentos e os guarda". A ação de guardar os mandamentos aqui não implica somente em decorar os mandamentos, mas sim em conhecê-los e praticá-los. O incrível é que vejo muitas pessoas dizendo que amam a Deus e quando pergunto sobre Seus mandamentos, elas não conhecem! Eu fico pensando: se amar a Deus é guardar seus mandamentos, como uma pessoa que nem conhece os mandamentos de Deus pode amá-lo? O amor a Deus começa com a ação da obediência, então, se você não sabe a que obedecer, como poderá ser obediênte? Na verdade, muitas pessoas confundem os conceitos de "amar a Deus" e "ser simpático ao cristianismo". O fato de ter a esperança de ir para a vida eterna, sem saber o que é morte, dor, ansiedade, desespero, etc, é o que chama a atenção de muitos pseudo-cristãos. Mas quando o amor a Deus é explicado em sua forma completa, ou seja, mostrando que amar a Deus envolve o compromisso com o Eterno, então muitos pensam duas vezes. Isso me faz lembrar o jovem rico, que chegou a Jesus dizendo que conhecia a Lei dos profetas e tinha guardado tudo, mas quando Jesus o pediu para abrir mão do que realmente estava em seu coração (sua riqueza), então ele mudou de ideia (Mt 19:16-22).

Ainda aproveitando o texto de Mateus 19, vemos algo muito sério quando dizemos que amamos a Deus: é o amor ao próximo. Uma afirmação que denota isso facilmente é a seguinte: "quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não enxerga" (I Jo 4:20). Outro texto que nos mostra como o amor ao próximo é agradável a Deus é o texto que diz: "tudo o que fizerdes a um desses pequeninos, a mim o fazeis" (Mt 25:40). Se você ler o texto de Mateus 25:34-40, você verá que Jesus está separando aqueles que realmente fazem sua vontade e que realmente o amam, daqueles que somente querem ir para o céu.

4. Conclusão

Todo aquele que ama a Deus é um vitorioso, mesmo que as circunstâncias pareçam sempre contrárias. O caso é que muitos ainda não entendem o que significa amar a Deus, e justamente a parte mais importante deste verso é ignorada. Suponho que não seja uma simples coincidência! Vemos o caso mencionado do jovem rico, em que amar a Deus implica em abrir mão de outras coisas. Isso não significa que você não possa ter uma vida com alguns luxos, mas qualquer coisa que tome o teu coração, sejam riquezas, bens, pessoas, costumes, conceitos, etc., vira idolatria, e isso é algo que Deus abomina. Se você ama a Deus, deve dar o teu coração somente para Ele e nada mais.

E, por fim, nem tudo aquilo que nos parece bom é algo que coopera conosco; por outro lado, há coisas que nos são até incômodas, que na verdade estão nos ajudando internamente, secretamente. Teremos os resultados para comprovar, mas durante o processo é comum não entendermos, então, às vezes desanimamos achando que Deus está nos evitando, e isso não é verdade.

O que Paulo ensina em Romanos 8:28 é que o bem que estamos recebendo em todas as circunstâncias de nossas vidas é aquele que nos aproxima do Eterno, que nos santifica e nos edifica. O bem não pode ser visto como coisas materiais ou o cumprimento de todas as nossas vontades. Definitivamente, o mais importante para a vida do servo de Deus, daquele que é chamado segundo Seu propósito, é o relacionamento intenso com Deus e o cumprimento da vontade Dele na vida do homem. Esta é a maior conquista que uma pessoa pode alcançar. Essa conquista não é impedida por nada nem por ninguém; nem mesmo a morte pode tirar isso de nós. Esta, sim, é a maior e melhor vitória que uma pessoa pode ter em toda a sua vida.

E por fim, é necessário lembrar que amar a Deus é a prioridade máxima de todo servo de Deus e que não importa quais serão as estradas da vida, se andarmos com Deus, já somos mais do que vencedores!

"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda tua alma e de todo teu entendimento e amarás ao teu próximo como a ti mesmo"
Lucas 10:27.

Assim todas as coisas cooperarão para teu bem.

Deus abençoe tua vida!
Por: Rogério Filho