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1 E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. 2 E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz. 3 E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. 4 E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho. 5 E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono."
Apocalipse 12:1-5
Dentre os estudos proféticos escatológicos do livro de Daniel, vamos esbarrar em algumas profecias do livro de Apocalipse, que na verdade, são complementares das profecias de Daniel. Neste pequeno artigo, vamos falar sobre o texto de Apocalipse 12, o texto onde vemos a história da Mulher e o Dragão. Vamos entender quem são ambos e como estes fatos se desenrrolaram ao longo da história.
A Mulher de Apocalipse 12 e as profecias de Daniel
A mulher de Apocalipse 12 é muitas vezes interpretada como representando a nação de Israel por vários motivos, especialmente se pensarmos na narrativa bíblica onde Israel é a "mãe" do Messias.
As similaridades entre os capítulos 2 e 7 de Daniel e o capítulo 12 de Apocalipse
Há similaridades nas profecias do livro de Daniel e em algumas profecias de Apocalipse, como vemos no capítulo 12. Uma das similaridades é a forma como Satanás aparece nessas profecias. Ele, por si mesmo, não pode fazer nada sem usar algum poder terreno; por isso, vemos na profecia de Daniel 7 um grande animal, terrível e espantoso, e em Apocalipse 12, um dragão. O dragão, em si, representa Satanás, mas, em Daniel, representa um império, o que nos leva a concluir que Satanás utiliza poderes terrenos para controlar e destruir.
Da mesma forma, vemos uma associação semelhante entre a mulher e a nação. No livro de Daniel, os quatro animais lutam contra a nação de Israel; já em Apocalipse, a nação é simbolizada como uma mulher grávida. Outra similaridade que podemos notar está no capítulo 2 de Daniel: uma pedra é lançada sem auxílio de mãos e atinge a estátua do sonho de Nabucodonosor, destruindo-a (Dn 2:34). No capítulo 7, Jesus é apresentado como o "Ancião de Dias" (Dn 7:9), e o juízo está em suas mãos. Em Apocalipse 12, vemos o Filho da mulher, que regerá todas as nações e cujo reino não terá fim.
Assim, percebemos que as profecias retratam os mesmos eventos, embora reveladas a pessoas e épocas diferentes, mas com o mesmo propósito.
1. Israel como o Povo de Deus: A ideia de Israel ser uma "mulher" escolhida e que, por meio de suas linhagens e profecias, trouxe o Messias, encontra respaldo em vários textos proféticos. Em Apocalipse 12:1-2, a imagem da mulher coroada com doze estrelas remete às doze tribos de Israel, uma simbologia frequentemente associada ao povo israelita.
2. O Filho da Mulher: A descrição do "filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro" aponta fortemente para Jesus, alinhando-se com a profecia messiânica do Antigo Testamento em passagens como o Salmo 2:9. Este salmo fala de um governante ungido por Deus que rege com uma vara de ferro, o que muitos entendem como uma referência direta ao Messias. No Novo Testamento, Jesus é o cumprimento dessa profecia e a "semente" de Israel que trará a redenção.
3. A Perseguição e o Exílio de Israel: A cena em Apocalipse 12 de uma mulher fugindo para o deserto e sendo protegida lembra as várias perseguições que Israel sofreu, particularmente após o domínio romano e a diáspora judaica em 70 d.C., quando os judeus foram espalhados pelo Império Romano e além. Essa fuga também é vista como uma referência à proteção divina sobre o remanescente fiel do povo de Deus durante os tempos de perseguição.
4. A Relação com o Contexto Escatológico: Alguns intérpretes associam essa fuga da mulher ao deserto com a proteção e preservação do povo de Deus, tanto Israel quanto a igreja cristã, ao longo da história até a segunda vinda de Cristo. Nesse sentido, a mulher pode simbolizar tanto Israel como o povo de Deus em um sentido mais abrangente, indicando a continuidade entre Israel e a igreja.
Considerações Teológicas
Se pensarmos em Israel como a mãe do Messias e a portadora das promessas divinas, essa interpretação de Apocalipse 12 fortalece a narrativa bíblica da fidelidade de Deus ao Seu povo e à Sua aliança, mesmo diante de adversidades. Muitos estudiosos argumentam que essa passagem une a história de Israel à história da igreja, apontando para uma continuidade na obra redentora de Deus.
Informações complementares
Além das conexões que já discutimos, há outros aspectos relevantes sobre a mulher de Apocalipse 12 e sua interpretação como a nação de Israel, bem como a sua relação com a história da salvação e a escatologia. Vamos explorar alguns deles:
1. As Imagens Simbólicas na Escritura
- A Mulher e a Cidade: Em várias partes da Bíblia, a mulher é usada como símbolo para representar não apenas pessoas, mas também cidades ou nações. Por exemplo, em Gálatas 4:26, Paulo menciona a "Jerusalém que é de cima" como a "mãe" de todos os crentes. Essa associação reforça a ideia de que a mulher em Apocalipse 12 pode simbolizar Israel como um povo, e, ao mesmo tempo, a Jerusalém celestial.
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A Mulher e a Noiva:
A mulher em Apocalipse tem duas interpretações. No episódio de Apocalipse 12, vemos a mulher representando a nação de Israel. Isso pode ser compreendido facilmente pelo próprio texto, que nos diz que a mulher estava para dar à luz a "um filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono" (Ap 12:5). No verso seguinte, vemos que a mulher foi perseguida pelo dragão, que tentou tirar-lhe a vida, e ela fugiu para o deserto, como descrito no verso: "E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias" (Ap 12:6). Este episódio remonta à destruição de Jerusalém em 70 d.C., pelo general romano Tito, e posteriormente à destruição completa de Judá em 132 d.C., pelo imperador Adriano. Nessa fase, Israel fugiu para outras terras, e seu povo foi abrigado por elas.
Há um segundo caso em que também aparece uma mulher, agora como "Noiva". Em Apocalipse 21, a mulher é apresentada como "Noiva de Cristo". Aqui, não estamos falando da mesma mulher. Ou seja, não se refere especificamente à nação de Israel, mas a todos os discípulos de Cristo, a saber: os judeus messiânicos (a Igreja apostólica do primeiro século) e os cristãos que guardam os mandamentos.
Há vários textos que explicam que a mulher - Noiva, estamos falando dos cristãos, ou seja, aquela que casará com o Filho da mulher de Apocalipse 12, ou seja, a Igreja. Temos vários textos para fundamentar isso, por exemplo Apocalipse 21:2, 21:9, 2 Coríntios 11:2 (onde Paulo fala claramente que os cristãos são a Noiva de Cristo). Ainda temos vários outros, mas acredito que os aqui mencionados já são suficientes.
2. O Contexto da Perseguição
- Histórico de Perseguições: Israel passou por várias perseguições ao longo de sua história, desde o Egito até os impérios assírio e babilônico, e mais recentemente, durante o domínio romano. A mulher fugindo para o deserto em Apocalipse 12:6 pode ser vista como uma representação dessas várias experiências de exílio e proteção divina em momentos de crise.
- Apocalipse e Perseguição da Igreja: A interpretação de Apocalipse 12 como uma alusão a Israel também pode se expandir para incluir a igreja, especialmente no contexto de perseguições que os cristãos enfrentaram ao longo da história. A proteção da mulher no deserto pode simbolizar a preservação do povo de Deus, tanto israelita quanto cristão, ao longo do tempo.
3. Teologia da Aliança
- Cumprimento das Promessas: O papel de Israel na história da salvação é crucial. A mulher simboliza o cumprimento das promessas de Deus feitas a Abraão, Isaque e Jacó, culminando na vinda de Jesus. Essa aliança contínua é central para entender a relação entre Israel e a igreja.
- A nova aliança: O Novo Testamento apresenta a igreja como uma extensão ou cumprimento da antiga aliança, onde as promessas feitas a Israel se concretizam em Jesus e se estendem a todos os crentes. Isso reforça a ideia de que a mulher (Israel) é fundamental para a compreensão do plano de Deus para a redenção.
4. Escatologia e Esperança
- A Esperança do Povo de Deus: A passagem de Apocalipse 12 também reflete uma esperança escatológica, onde, apesar das perseguições e tribulações, a proteção e o triunfo de Deus sobre o mal são garantidos. A vitória do "filho" que é arrebatado para o trono de Deus sugere um futuro glorioso para o povo de Deus, tanto Israel quanto a igreja.
- Restauração Final: A visão final de restauração, onde o povo de Deus será salvo e reunido, é um tema central na teologia bíblica. A mulher que dá à luz o Messias e sua subsequente proteção é um símbolo dessa esperança.
Conclusão
A interpretação da mulher de Apocalipse 12 como Israel é rica e multifacetada, refletindo a complexidade da narrativa bíblica e a continuidade da obra redentora de Deus. Sua teoria se alinha a várias linhas de interpretação que reconhecem o papel central de Israel na história da salvação e a conexão com a igreja, oferecendo uma perspectiva abrangente sobre o plano de Deus para Seu povo ao longo dos tempos.
29 de outubro de 2024
Por Rogério Filho
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