Livro de Daniel - Aula 4


O quarto animal

"Em minha visão à noite, vi ainda um quarto animal, aterrorizante, assustador e muito poderoso. Tinha grandes dentes de ferro, com os quais despedaçava e devorava suas vítimas e pisoteava tudo o que sobrava. Era diferente de todos os animais anteriores e tinha dez chifres."
Daniel 7:7

O enigmático animal da visão de Daniel está em paralelo às pernas de ferro do sonho de Nabucodonosor. Ambos, represantam a quarta fase, contudo, esta fase se divide em duas partes, a qual este quarto reino está muito forte e a segunda fase mostra um reino fragilizado, dividido e que será destruído pelo próprio Deus. No estudo de hoje, vamos detalhar o que era este animal terrível e seus episódios na história.

A ascenção de Roma

Terceira Guerra Macedônica (171-168 a.C.), foi a guerra foi travada contra o filho de Filipe V, Perseu da Macedônia. A batalha decisiva foi a Batalha de Pidna em 168 a.C., onde o exército romano, liderado por Lúcio Emílio Paulo, derrotou Perseu. Esta vitória marcou o fim do Reino da Macedônia como uma entidade independente. A Macedônia foi dividida em quatro repúblicas clientes sob supervisão romana. Este episódio, marcou o fim da terceira fase do sonho e da visão e o início da quarta fase, onde agora conhecemos o reino que representa o animal terrível: Roma.

"Finalmente, haverá um quarto reino, forte como o ferro, pois o ferro quebra e destrói tudo; e assim como o ferro despedaça tudo, também ele destruirá e quebrará todos os outros." (Dn 2:40)

O quarto animal é diferente de todos os outros e Daniel nunca tinha visto nada igual. Isso porque, todos os quatro animais eram como animais comuns, como podemos ver o Leão, o Urso e o Leopardo. Suas diferenças conotavam os poderes de cada império, por exemplo, asas de águia e quatro cabeças, mas o quarto animal, era uma figura de um animal que não existia o que chamou a atenção de Daniel para perguntar ao anjo sobre ele.

O quarto animal também era um reino, só que havia uma diferença no tipo de reino e as consequências deste. Roma venceu a Macedônia em 168 a.C, depois disto, a Palestina estava sob controle romano desde 63 a.C., quando o general Pompeu capturou Jerusalém. No entanto, as tensões entre os judeus e os romanos foram crescendo ao longo dos anos, devido a questões religiosas, econômicas e políticas. Isso culminou em crescentes guerras entre judeus e romanos o que ocasionou a segunda diáspora em 70 d.C, quando Tito iniciou o cerco de Jerusalém na primavera daquele ano. Em agosto do mesmo ano, as legiões romanas romperam as defesas da cidade e invadiram Jerusalém. Houve uma feroz luta dentro da cidade, mas os romanos dominaram os defensores.

A destruição do segundo Templo foi um dos eventos mais significativos de Judá. O Templo de Jerusalém, o centro da religião judaica, foi incendiado e destruído, um golpe devastador para a comunidade judaica. A segunda diáspora perdurou até o século XX, quando por um decreto da ONU reconheceu o Estado de Israel e descendentes de judeus do mundo inteiro voltaram para sua terra. Esse impacto mostra a crueldade do império romano, assim como as palavras da profecia: "tinha grandes dentes de ferro, com os quais despedaçava e devorava suas vítimas e pisoteava tudo o que sobrava" (Dn 7:7).

A profecia

No verso 7 do capítulo 7 de Daniel, vemos que o animal tinha dentes e unhas de metal (ferro e bronze) e ele despedaçava suas vítimas e pisoteava o que sobrava (7:19). Quando vemos as investidas do império romano, vemos algo parecido com o antigo Império Assírio. Roma era extremamente forte, cruel e foi a responsável pela destruição definitiva de Judá no ano 70 d.C. Mas os romanos não se contentaram somente em destruir a cidade, eles tentaram destruir todo povo judeu, por isso, vemos grandes perseguições e aniquilações.

Mas, mesmo com toda essa força, o império romano passou por várias dificuldades à partir do século III e no fim do século IV, foi dividido em duas partes - uma ocidental e outra oriental.

1ª Fase - Roma Imperial

No sonho de Nabucodonosor, esta primeira fase se dá pelas pernas de ferro. Apesar de Roma já existir antes de Cristo, os historiadores a definem como império à partir de 27 d.C. O motivo disso é que na verdade, Roma tinha um governo republicano o que mudou na época de Otávio Augusto que foi nomeado como imperador e foi sucedido por seu filho, Tibério. O governo de Otávio Augusto foi um dos momentos mais prósperos de Roma, conhecido com Pax Romana (Paz romana). O império romano então se extendeu de 27 d.C à 476 d.C.

Um dos episódios mais crueis de Roma em relação aos judeus, foi a perseguição. A tomada completa de Jerusalém em 70 d.C e depois a batalha de Massada, com início em 73 d.C. descreve o quão cruel foi a ação de Roma contra os judeus, culminando na segunda diáspora. Mas o império romano não foi duro somente com os judeus. Roma dominou uma região extremamente vasta em sua época imperial.

"O Império alcançou uma imensidão territorial de aproximadamente sete milhões de metros quadrados. Entre os territórios conquistados destacam-se a Grécia, o Egito, a Macedônia, a Gália, a Germânia, a Trácia, a Síria e a Palestina."

O mapa abaixo, mostra a grandeza do império romano já no ano de 117 d.C. Toda área verde, rosa e cinza são governadas pelo império romano.

Esta fase conota as pernas de ferro, onde Roma era poderosa e voraz. Mas, a segunda fase de Roma ainda estava por vir.

2ª Fase - Roma eclesiástica

Todo grande império passa por diversos conflitos internos. À medida que o poder se extende, outros fatores crescem proporcionalmnete, como por exemplo, conflitos internos, vários erros administrativos, problemas sociais, etc. Roma não ficou fora disso. Em uma tentativa de resolver este problema, Roma foi dividida em duas partes: Ocidental e Oriental.

A divisão começa com o imperador Dioclesiano, mas tem sua conclusão firmada com o imperador Teodósio, no ano de 395 d.C. Mas, antes da divisão política definitiva, outra divisão estava acontecendo dentro de Roma, que era a divisão religiosa. Dioclesiano passou o império para Constantino que teve uma ideia inovadora: construir um império político-religioso (pés de ferro e barro).

Segundo o autor Breno Rodrigo de Oliveira Alencar, cita o autor francês Paul Veyme sobre sua opinião à respeito do cristianismo de Constantino. Segundo a citação de Breno Rodrigo, Constantino tinha em mente um "projeto maior". Veja a citação de Breno:

" ...Constantino foi um príncipe cristão de uma astúcia excepcional, que tinha em mente um projeto maior, mesclando piedade e poder: construir uma sociedade cristã e, por conseguinte, um império político e religioso. Projeto abrangente que foi, afinal, apenas parcialmente bem-sucedido, uma vez que após sua morte, no ano de 337, a Igreja foi duplamente afetada pela heresia (do arianismo no Oriente) e por um cisma (o donatismo na África); a unidade política do Império não poderia sobreviver sem restauração. "

Constantino era simpático à mitologia romana. Como foi um comandante, ele erguia o estandarte de Mitras, o deus sol da mitologia romana. Quando houve sua suposta conversão no ano de 312 d.C. durante uma batalha ele disse ter visto um sinal no céu com os seguintes dizeres: "sob este sinal vencerás". Em alguns artigos informam que ele teve esta "visão" na noite anterior à batalha.

Por ser ardiloso, era muito provável (ainda que muitos vão discordar disso) que ele nunca tenha se convertido, mas usou do cristianismo para expandir ainda mais seu governo, já que os cristãos cresciam cada vez mais, mesmo com sua perseguição desenfreiada. Constantino sabia que se conseguisse a confiança dos cristãos, eles se uniriam a Roma e aumentariam seu domínio, sem necessidade de uma guerra.

Um dos meus argumentos para fundamentar minha desconfiança é que mesmo convertido ao cristianismo, Constantino só permitiu ser batizado em seu leito de morte. Outro fato interessante são os dias de celebração ao deus Mitras. Por exemplo, o que chamamos de natal atualmente, ou seja, o dia 25 de dezembro, era a celebração anual ao deus Mitras e o domingo era o dia dedicado ao mesmo deus. A data do nascimento de Jesus é desconhecida, então, porquê Constantino definiu o dia de celebração do nascimento de Cristo no mesmo dia de celebração/adoração a Mitras? Outra pergunta para refletir é o porquê de retirar dos Dez Mandamentos (Êxodo 20) o mandamento "Não farás para ti imagem de escultura". Outro argumento para embasar minha dúvida, também é relativa a outro mandamento, que é a guarda do dia de sábado (Ex 20:8), que no catecismo da igreja romana foi substituído pelo dia de domingo, que era o dia semanal dedicado também à Mitras.

Agora, sendo imperador romano e "dono do cristianismo", ele tinha dois grandes poderes em suas mãos. No entanto, o cristianismo não foi completamente aceito por Roma, o que também ocasionou uma divisão ideológica. Quando ocorre a conversão de Constantino, estamos entrando na segunda fase da quarta parte da estátua do sonho de Nabucodonosor: os pés de ferro e barro, ou seja, a união de poderes políticos e religiosos. Voltando à fala de Breno Rodrigo, chegamos à conclusão dessa ideia: "... construir uma sociedade cristã e, por conseguinte, um império político e religioso".

Mas essa quarta fase é representada no capítulo 7 por um animal "terrível e espantoso", um animal que não se assemelha a nenhum outro existente e, segundo a visão de Daniel, era o mais poderoso da visão. Na cabeça desse animal, há dez chifres, e mais tarde, um décimo primeiro chifre aparece, arrancando três que já estavam.

O grande físico Sir Isaac Newton escreveu uma obra sobre as profecias de Daniel, na qual ele explica os paralelos entre os capítulos 2 e 7 do livro, trazendo consigo eventos históricos para fundamentar sua teoria. Além de Newton, vários teólogos e doutores em história também corroboram com seus argumentos, aumentando ainda mais o entendimento das profecias de Daniel. Vamos analisar os paralelos entre a história e a profecia para entender o que representam os dez chifres e o décimo primeiro chifre que aparece posteriormente.

O Livro de Isaac Newton que traz essas notas é chamado: "Observation Upon the Prophecies of Daniel, end the Apocalypse of St. John" ("Observações sobre as profecias de Daniel e Apocalipse de St. João). Esse livro traz detalhes fortes tanto dos conceitos das profecias bíblicas de toda as Escrituras, como também bases históricas para entendê-las.

No próximo artigo, vamos estudar a origem e quem são os dez chifres e sobre o décimo primeiro chifre - O chifre pequeno; sua origem, ascensão e domínio.


Por Rogério Filho


Notas:

  • História do Mundo. URL: https://www.historiadomundo.com.br/romana/queda-do-imperio-romano.htm
  • Wikipedia; Cerco de Massada. URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cerco_de_Massada
  • Site SciELO; https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/zqCpS83Q7Nk5Vz3WMWH998s/
  • NEWTON, Isaak. Observation Upon the Prophecies of Daniel, end the Apocalypse of St. John

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